entrevista com Alice Fromer

Alice Fromer - filha do eterno guitarrista titã, Marcelo Fromer - relembra com muito carinho, momentos inesquecíveis que viveu com o pai. Confira nessa entrevista emocionante, cedida gentilmente ao Fã-clube Titãs Cuiabá.

Você era bem nova quando perdeu seu pai. Como você recebeu a notícia ? 

Quando o acidente aconteceu, eu estava em Portugal. Imediatamente viajei para o Brasil, onde recebi a notícia, mas não exatamente na hora em que ele havia morrido; um tempo depois e sem grandes rodeios. Fiquei em choque, uma notícia completamente inacreditável e surreal. Segundos depois, desatei a chorar incessantemente.

Na escola, como era ser "a filha do Marcelo Fromer"?
As pessoas sempre me trataram normalmente, mas ser "a filha do Marcelo Fromer" despertava certo interesse e curiosidade nas pessoas. Tinham curiosidade em saber sobre a banda, perguntavam se meu pai costumava ensaiar em casa, se nós nos dávamos bem... Uma série de curiosidades surgiam e não poupavam perguntas, o que não me incomodava e era natural.

Como é sua relação com os Titãs atualmente ? 

Atualmente, o contato é menor e a relação é bem mais difícil por conta da distância. Moro em Portugal, e eles todos no Brasil, mas estou sempre acompanhando as novas músicas, novos álbuns, novos trabalhos...

O Que você achou do filme dos Titãs ?
Achei o documentário incrível, adorei. Foi muito além das minhas expectativas, me fazendo rir, sorrir, gargalhar e também, como é natural, mergulhar no passado e relembrar momentos menos felizes, mas que também fazem, inevitavelmente parte da trajetória da banda e, inclusive, da própria vida. A sensação de poder, por algumas horas, adentrar nas aventuras dos Titãs desde o início e compartilhar também as desventuras foi maravilhosa. Poder rir, chorar... E constatar, finalmente, que sim, "A Vida Até Parece Uma Festa".
  
Você gosta muito de escrever, tem um blog e uma coluna no jornal da Granja Viana. Pensa em seguir carreira na área ?
Com certeza. Até porque, escrever, é o que mais tenho prazer em fazer e algo que me faz muito, muito bem. Penso muito em tentar uma carreira como escritora e fazer faculdade de Letras ou Jornalismo. Quero dizer, "ser escritora" é um tanto pretensioso de se dizer, mas esse é um sonho muito vívido que cresce cada vez mais dentro de mim. Mas por enquanto ainda tenho bastante o que aprender, ler, escrever...

Qual a maior lembrança que você tem do seu pai ?
São muitas as lembranças que tenho do meu pai... Mas uma das lembranças que mais me vêm à tona no dia-a-dia é do meu pai testando meu paladar e olfato já desde pequena. Dava-me diversos temperos para cheirar (de olhos fechados) e reconhecer, dizendo o nome de cada um deles; modéstia a parte, eu era muito boa nisso e raramente errava. Nunca me esqueci de quando aprendi a distinguir o Alecrim do Manjericão, o Manjericão do Orégano... Me dava comidas diferentes para experimentar, coisas até que não costumavam agradar muito o paladar de uma criança. Ele sempre me ensinou a experimentar. Nunca dizer que não gostava antes de  uma degustação. Dizia também que queria abrir um restaurante chamado "Lili, La Petite Gourmet" e eu adorava a ideia. E é claro que o futebol não podia ficar de fora das lembranças mais marcantes; a pessoa mais sãopaulina que conheci e muito bom de bola. Lembro que adorava vê-lo jogar, achava o máximo; pedia pra ele "chutar a bola no alto". Então ele dava um pontapé fortíssimo na bola e a perdíamos de vista durante longos segundos. Até que avistávamos um pontinho branco no céu, ela caía no chão e eu dizia novamente: "Pai, chuta a bola no alto?!". E ele, incansavelmente, repetia o chute em direção ao céu.

Pra finalizar, defina: MARCELO FROMER.

Toda a criança considera o seu pai seu grande ídolo. Comigo não era diferente, meu pai era e é o meu herói.  É difícil definir sinteticamente MARCELO FROMER; para mim o meu pai é tudo. Lembro dele todos os dias, nas situações mais banais e corriqueiras até aos momentos mais intensos e difíceis... Em horas alegres, tristes... Todos os dias ele me vem à lembrança e para mim isso não é triste, mas sim estimulante, revigorante. Penso nele com alegria, como eu acho que ele gostaria e merece. Por vezes, meu pensamento sobre ele é tão nítido que tenho a viva impressão de o ter ao meu lado, ainda que não o possa tocar. É claro que existe o lado nostálgico, a hora que bate aquela saudade incomensurável e parece que um buraco preenchido pelo vazio acomodou-se dentro de mim. Mas são tantas as lembranças que ele me deixou, que sou capaz de passar horas  a fio recordando os vários momentos maravilhosos e transportar-me para o lado dele por longos instantes. (Ou será ele que é que se transportou para perto de mim...?) Aliás, acho que ele nunca saiu.